10 January 2011

2° Domingo do Advento, 07.12.08 [Ano B]

2º Domingo do Advento, 07.12.08 [Ano B]
Igreja do Bom Pastor/VN de Gaia
Cónego Doutor Francisco Carlos Zanger


«Que as palavras da minha boca e a meditação dos nossos corações, sejam agradáveis perante Ti Senhor, nossa Rocha e nosso Redentor; em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo». Ámen.

Hoje é o Segundo Domingo do Advento, e o Advento é principalmente um tempo de preparação. Para o mundo secular, é um tempo de preparação para as férias, talvez o tempo para comprar uma árvore de Natal, fazer uma festa para a família e de esconder os presentes do “Pai Natal” para as crianças.
Para nós, é diferente. Preparamo-nos para o Natal, claro... mas é muito mais importante que nos preparemos para acolher Jesus, não só como o bebé no presépio, mas como o nosso Juiz e deste modo preparamo-nos para o Juízo Final. Advento é tempo de lembrar a advertência do Evangelho do Domingo passado: “Estejam, portanto, vigilantes, porque não se sabe quando voltará”.
Estejam vigilantes — estejam preparados. O tema mais importante do Advento é este mesmo : preparação. Até podemos dizer que este é um dos temas mais importantes da nossa Fé Cristã; a preparação.

É por isso que o Evangelho de São Marcos, que é ‘a Boa Nova a respeito de Jesus Cristo, Filho de Deus’, não começa com Jesus, mas com um dos profetas maiores do Antigo Testamento, Isaías, e também com um do Novo Testamento, que é São João Baptista. Mas as nossas Bíblias ensinam que a preparação para a Incarnação e o Nascimento de Jesus, e também para o Juízo Final, começou bem antes do Novo Testamento — começou desde a Criação do Universo.
Como está escrito no Evangelho de São João : «No princípio de tudo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus, e ele mesmo era Deus. Desde sempre ele esteve com Deus.» Não podemos falar dum tempo ‘antes da Criação’ — o ‘tempo’ mesmo é uma parte da Criação.

Em Grego, a língua original do Novo Testamento, há duas palavras diferentes para traduzir a nossa palavra “tempo” e que são : — chronos e kairos. Chronos é o nosso tempo, o tempo linear — o hoje vem antes do amanhã, eu nasci depois dos meus pais mas antes dos meus netos... é o “tempo normal”, do passado, do presente, e do futuro. O chronos, o nosso tempo, é somente uma parte da Criação, a parte que começou ‘no princípio, quando Deus criou o céu e a terra”, no primeiro dia, e nas primeiras palavras do Livro do Génesis.

Kairos é completamente diferente. Kairos é o “tempo de Deus”, e para Deus, todos os nossos tempos são iguais. Ele pode ver o passado e o futuro ao mesmo tempo, porque Deus existe fora do tempo humano.

É por isso que o nascimento de Jesus é tão incrível — Deus, em Cristo Jesus, não só entrou na Sua própria Criação, como entrou no chronos também — entrou no tempo ‘humano’, como bebé, e viveu, e morreu, como um de nós. Nós falamos do sacrifício na Cruz, e foi um sacrifício horrível... mas Deus primeiro sacrificou o Seu próprio lugar fora do tempo humano, no kairos, para a ignorância, a dor e o medo do chronos. Só assim é que Ele pôde exclamar, no fim da vida, «Eloí, Eloí, lema sabactáni?» --"Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”

Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade, entrou na sua própria Criação como um de nós, deixando a sua omnisciência, até deixando ao lado, nesse momento terrível na Cruz, a sua sabedoria de amor do Pai... só para nos salvar??? Como é que podemos entender um sacrifício como este? Como é que podemos responder?

Não podemos entender. Precisamos de responder.

Desde a Criação, a nossa resposta ao amor de Deus foi terrível, pecaminosa. E a culpa é só nossa dado que Deus mandou centenas de profetas para nos ensinar. Deus, vivendo no kairos, fora do ‘tempo humano’, soube bem que as mensagens dos profetas seriam ignoradas e passariam despercebidas, mas ao mesmo tempo, deu-nos o livre arbítrio, deu-nos a oportunidade de escolher, quer o bem quer o mal. E, vezes sem conta, escolhíamos o mal. Ignorávamos os profetas que tinham sorte, e matámos o resto... incluindo o último, São João Baptista. Este, embora tenha acabado a sua missão profética com a cabeça num prato, conseguiu primeiro completar a sua missão — preparou o caminho do Senhor!
O caminho foi bem preparado — esta é umas das mensagens do Advento : que Deus, vivendo e mudando em kairos, preparou tudo o que era preciso bem antes do primeiro Natal em Belém. Não foram somente as mensagens dos profetas, as profecias sobre o Salvador de Isaías e Jeremias e nos Salmos do Rei David, mas também as coisas mais concretas, mais pragmáticas.

Deus primeiro mandou o Anjo Gabriel ao sacerdote idoso, Zacarias, para lhe dizer: “Deus ouviu as tuas orações : Isabel, tua mulher, (também idosa) vai dar-te um filho e tu vais pôr-lhe o nome de João”, e alguns meses mais tarde, mandou o mesmo anjo à Virgem Maria, parente de Isabel, para a Anunciação : “Eu te saúdo, ó escolhida de Deus. O Senhor está contigo! Não tenhas medo, pois foste abençoada por Deus. Ficarás grávida e terás um Filho, a quem vais pôr o nome de Jesus.” E Santa Maria disse, “Servirei o Senhor como Ele quiser. Seja como tu dizes.”
Deus tinha de mandar o anjo pela terceira vez, a São José, quando ele ouviu que Santa Maria já estava grávida — o anjo apareceu num sonho e disse-lhe: “José, filho de David, não tenhas medo de casar com Maria, pois o que nela está gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho, e chamarás o seu nome Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados!”.

São João nasceu antes de Jesus, porque tinha de preparar o caminho para o seu primo, nosso Salvador. São João, o último profeta da velha Aliança, o primeiro profeta da nova, proclamou a Boa Nova : “Arrependam-se do mal, recebam o baptismo, e Deus vos perdoará os pecados”. João sabia bem que não era o Messias, o Cristo –– foi ele que disse: “Eu baptizo-vos com água, para se arrependerem do mal. Mas o que vem depois de mim tem mais autoridade do que eu : nem sequer mereço a honra de lhe levar as sandálias!. Ele há-de baptizar-vos com o Espírito Santo e com fogo”.
Então, tudo isto foi a preparação do caminho para Jesus, preparação esta, que começou na Criação, como está escrito no Evangelho de São João, quando diz: “Nele estava a vida, e essa vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a venceram”. A preparação do caminho do Senhor continuou com as palavras dos profetas, como Isaías : “Pois bem, é o próprio Senhor que vos vai dar um sinal: uma virgem ficará grávida e vai dar à luz um filho e pôr-lhe-á o nome de Emanuel” que significa “Deus está connosco”, e também : “Alguém grita no deserto : preparem o caminho do Senhor e abram-lhe estradas direitas!”. [*Capítulos 7 e 40 do Isaías, na ‘Septuaginta’]

A preparação feita por Deus continuou com a pregação do primo de Jesus, São João Baptista, no deserto da região da Judeia, pregando o arrependimento do mal, e baptizando o povo no Rio Jordão, para a remissão dos pecados. E, como está escrito no nosso Evangelho, Jesus veio de Nazaré da Galileia e também foi baptizado por João Baptista no Jordão, e o céu abriu-se e o Espírito Santo, como uma pomba, descia sobre Ele, e Ele ouviu a voz do Pai, que dizia: “Tu és o meu Filho querido: tenho em Ti a maior satisfação!”.

E logo, o Espírito o impeliu para o deserto, aonde Jesus passou quarenta dias com os animais selvagens, foi tentado por Satanás, e era servido pelos anjos.
Quando saiu do deserto, começou pregando a Boa Nova sobre o amor de Deus, o arrependimento dos pecados, o Reino do Céu — mas também sobre o Juízo Final, quando Ele voltará para julgar o mundo. Vai ser um julgamento difícil, porque, como Ele disse no Evangelho de São Mateus, o nosso Juiz só quererá saber se vivíamos as nossas vidas com passividade ou compaixão — se dávamos comida para todos os que tinham fome, água para todos os que tinham sede, roupas para os que estavam nus...
Bem. Se o Advento é o tempo da preparação para o retorno de Jesus, para o Juízo Final, e se este Juízo vai ser sobre o nosso amor para com os outros... como é que nos preparamos?
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Ámen.

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